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Pequenas empresas exportam ‘brasilidade’ para ganhar mercados

Pequenos empresários buscaram no Brasil diferencial para competir lá fora.
Bijuterias de capim e cosméticos de café estão entre produtos ofertados.

Gabriela Gasparin Do G1, em São Paulo

Bijuterias feitas com capim dourado, cosméticos à base de café e ingredientes amazônicos, chá mate orgânico solúvel e até pequenas usinas de biodiesel estão entre os produtos que micro e pequenos empresários brasileiros escolheram para garantir espaço no disputado mercado internacional. Ao investir em nichos “abrasileirados”, esses empreendedores buscam reduzir a concorrência e atender à demanda cada vez maior por produtos sustentáveis em todo o mundo.

É em Diadema, no ABC Paulista, que a Arte dos Aromas fabrica cosméticos orgânicos inspirados na Amazônia, usados por consumidores da Dinamarca, Lituânia e Itália.

Entre os produtos estão shampoos, sabonetes, cremes faciais e sais de banho, todos feitos com ingredientes orgânicos, como óleos de castanha, babaçu, buriti e andiroba, além de extrato de açaí e manteiga de cupuaçu, explica a diretora comercial Geysa Belém.

Os ingredientes vêm de comunidades de regiões amazônicas. Alguns são adquiridos de cooperativas locais, sem intermédios de outras empresas, e outros, por meio de um distribuidor.

A aceitação e a valorização de um produto artesanal, principalmente feito com produtos naturais, é maior no mercado externo”
Fabiana Bezerra

Geysa afirma que as exportações começaram em julho de 2009 e foram crescendo aos poucos. Em 2010, a empresa teve crescimento de 15% e as vendas internacionais foram responsáveis por 7% do faturamento. Para este ano, a expectativa é crescer até 20% e aumentar a participação com exportações para 15% do faturamento.

Apesar dos resultados, Geysa afirma que não foi fácil começar o comércio com outros países. “É preciso seguir as normas deles, ter certificação”, diz. Para conseguir a certificação, que dá aos cosméticos o rótulo de orgânicos, foram necessários dois anos de trabalho, revela.

“Por enquanto, os produtos orgânicos são um diferencial a mais no Brasil (…). Aqui, as grandes empresas ainda não estão trabalhando com esse conceito”, diz. Para Geysa, o consumidor brasileiro ainda não tem o costumo de ler os rótulos e ver como os produtos são feitos.

Adaptação
A chance de conseguir um espaço no mercado internacional muitas vezes está justamente em identificar as necessidades dos países e adaptar os produtos brasileiros a elas, avalia o diretor de negócios da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) no Brasil, Maurício Borges.

“Independente do porte da empresa, sempre haverá espaço para quem oferece produtos diferenciados, inovadores e de alta qualidade”, avalia. A agência atua para inserir empresas no mercado internacional com soluções em áreas como qualificação para exportação, promoção comercial e apoio à internacionalização. No Brasil, são mais de 12 mil empresas apoiadas, sendo 94% micros, médias e pequenas.

Bijuterias de capim
A pequena empresária Fabiana Bezerra viu no capim dourado disponível nas fazendas da família uma possibilidade de “inventar moda”. Em 2007, criou a Art Da Terra, no Tocantins, e iniciou a produção de bijuterias feitas com o capim e outras matérias-primas, como fios de seda, lãs, palhas e sementes.

Atualmente, os colares e pulseiras da pequena empresária são vendidos para a França, Alemanha, Espanha, Itália, Áustria, Suíça, Portugal, Grécia, Estados Unidos, Japão, Honduras, México e Porto Rico. Com tantos destinos, as exportações representam 95% do faturamento.

As bijuterias são produzidas por artesãos que trabalham em suas próprias casas e são remunerados de acordo com o trabalho de cada peça, revela Fabiana.

“A aceitação e a valorização de um produto artesanal, principalmente feito com produtos naturais, é maior no mercado externo”, diz. De acordo com Fabiana, os preços das mercadorias variam de R$ 15 a R$ 360, em média, para vendas no atacado.

Participação pequena
De acordo com os dados mais recentes do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,  as micro e pequenas empresas correspondiam, em 2009, a 44% do total de estabelecimentos que exportavam no país. As médias correspondiam a 30%. Apesar disso, no valor exportado, as micro e pequenas tiveram participação de apenas 0,9% e, as médias, de 5,6%.

Para o consultor Gilberto Campião, do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), é justamente na segmentação que as micro e pequenas podem tentar melhorar esse resultado. “Se a empresa trabalhar com produtos corriqueiros, não vai ter preço. Para conseguir fazer as vendas, precisa ter segmentação, nicho (…). Fica mais fácil trabalhar com produtos do Brasil, não vai ter chinês, indiano, na concorrência. O preço deixa de ser diferencial, que passa a ser o produto”, diz.

É com a intenção de mostrar esse diferencial comentado por Campião que o Projeto Organics Brasil trabalha promovendo os produtos orgânicos brasileiros no mercado internacional. De acordo com coordenador executivo do projeto, Ming Liu, todo o produto orgânico trabalha três conceitos básicos: segurança alimentar, questão ambiental e questão social.

“O Brasil tem toda a característica com produtos com princípios ativos próprios (…) Há também o clima, a biodiversidade. Trabalhamos com uma imagem que o Brasil é orgânico”, diz.

Cosméticos de café
Foi com o conceito de produto sustentável que Vanessa Vilela se inspirou na tradição do café em Minas Gerais para criar, em 2007, a linha de cosméticos Kapeh, com produtos à base de café.

Formada em farmácia e bioquímica, Vanessa conta que buscou desenvolver uma marca de cosméticos diferente do que havia no setor. Ela explica que resolveu apostar nas exportações por conta da “brasilidade do café e dos produtos”. Atualmente, as exportações giram em torno de 5% dos negócios e vão para Portugal e Holanda

Em 2010, a marca teve crescimento de 250% e as expectativas para 2011 é de crescer mais 300%. O planejamento para este ano também é de ampliar a atuação no exterior para alguns países do Oriente.

Para isso, a empresa também buscou certificação. De acordo com Vanessa, a certificação é holandesa e assegura a qualidade do grão e uma produção rastreada e sustentável.

Qualificação
Por conta dos investimentos e preparação necessários para entrar no mercado internacional, como planejamento e pesquisa de mercado, a microempresa Ceni Mate Organico, do Paraná, está indo com calma antes de iniciar as exportações. Paola Ceni, diretora de marketing e vendas, explica que as pesquisas iniciaram em 2008 e as vendas internacionais ainda não começaram.

A empresa, que há 20 anos cultiva folha orgânica de mate e revende para grandes empresas nacionais, criou um produto final para competir no exterior, o chá mate orgânico solúvel. “Vimos uma oportunidade exatamente para exportação”, diz. “O chá é instantâneo. É só misturar com água gelada e ainda mantém todas as propriedades da erva mate. Estamos acreditando muito nesse produto para exportação, pois não pesa muito e tem volume pequeno”, acrescenta.

Paola buscou apoio na Apex e atualmente está profissionalizando setores internos para garantir o sucesso das exportações. “Em julho, vamos começar a prospecção nos mercados por meio de feiras e visitas (…). Temos em mente mercados como Uruguai, Chile, Alemanha e Estados Unidos”. De acordo com Paola, já há uma empresa que compra as folhas para exportar o produto a granel.

Usinas de biodiesel
Um pouco mais avançada que a empresa de mate, a Biotechnos Projetos Autossustentáveis está com as negociações em andamento para iniciar as exportações de pequenas usinas de biodiesel para a África do Sul, explica o gerente comercial e de marketing Alexandre Lombello.

De acordo com Lombello, o foco da empresa são os mercados da África e da América do Sul. “Essas regiões têm os mesmos problemas sociais que temos aqui, concentração de riqueza e grande massa populacional abaixo da linha da miséria, onde projetos sociais com viés de sustentabilidade se tornem fato”, diz. As máquinas produzem o biodiesel com óleo de gordura animal ou vegetal. De acordo com ele, comunidades podem colher o óleo, como o de cozinha, para a fabricação do combustível.

Lombello explica que a empresa está desenvolvendo um microequipamento, bem menor dos vendidos no Brasil, para adaptar à realidade daquele país. A microusina que provavelmente chegará à África terá capacidade de produção de até 100 litros de biodisel, sendo que no Brasil o mínimo é de 1 mil e há projetos para 10 mil litros.

No Brasil, os equipamentos são adquiridos por ONGs ou projetos sociais de administrações públicas. De acordo com ele, a legislação brasileira não permite a revenda de biodiesel diretamente ao público final, mas há clientes que também compram o equipamento com o intuito de oferecer o biodiesel à Petrobras.

“Exportar não é tão difícil. É igual investir na bolsa de valores, todo mundo acha interessante, mas não sabe como fazê-lo”, diz.

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